Como seria o mundo sem água? Você consegue imaginar? Nós, do Menos 1 Lixo, ficamos com a pulga atrás da orelha nas últimas semanas. Nos perguntamos se as pessoas conseguiriam imaginar isso e se sabem as consequências reais da falta d’água se tornar comum em todo o planeta – lembrando que alguns lugares já passam por isso por variados motivos. Para sanar tantas dúvidas, indagações e questionamentos sobre a importância desse recurso para todos nós e, principalmente, sobre as consequências de um “mundo seco”, chamamos Fabio Rubio Scarano para nos ajudar. Se você não o conhece, Fabio é Ph.D. em Ecologia na Universidade de St. Andrews, Escócia. Professor Associado de Ecologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (desde 1993) e membro da Sociedade Linneana de Londres (desde 1995). Desde 2015 é Diretor Executivo da Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável onde coordena projetos ligados à biodiversidade e serviços ambientais, adaptação às mudanças climáticas e agricultura sustentável. Além disso, é autor nos painéis intergovernamentais do clima (IPCC) e da biodiversidade (IPBES). Ocupou posições no Governo Brasileiro (2005-2011) e na ONG Conservation International (CI) onde foi Vice-Presidente Sênior da Divisão das Américas (2009-2015). Fabio é principalmente um indivíduo preocupado em agir em prol do planeta e da vida.
Sobre a nossa primeira pergunta, também feita a você, Scarano declara: “É impossível imaginar. É pré-requisito pra vida, como a conhecemos, tal qual o oxigênio. Só no caso dos humanos, cerca de 70% do nosso corpo é água.” Quando perguntado sobre a ligação entre as mudanças climáticas, o aquecimento global e a falta d'água, Fabio deixa claro, de forma didática e acessível (como sempre buscamos fazer aqui), o que já mostramos algumas vezes: está tudo interligado! “Mudanças climáticas estão em curso, por conta do acúmulo histórico de gases estufa na atmosfera, decorrente principalmente de atividade industrial, uso de combustíveis fósseis e desmatamento. Esses gases estufa acumulados causam um aumento da temperatura média do planeta, que impõe mudanças no regime climático, inclusive no regime de chuva. Por exemplo, o planeta e o Brasil hoje já sofrem mais eventos climáticos extremos (cheia, inundação, furacões, etc.) do que há uma década. Redução no volume de chuva tem impacto direto sobre a disponibilidade de água, como Rio e São Paulo sentiram na pele em 2014 e 2015." Sobre um mundo com variações de 1 e 2 graus centígrados na temperatura, ele esclareceu: "Se o nosso padrão de emissão de gases estufa seguir como o atual, corremos o risco de chegar a 2050 com um aumento de 2 graus na temperatura média do planeta. A ciência já tem evidências que demonstram que esse valor já significaria mudanças graves na vida tal como a conhecemos. Portanto, os países signatários da Convenção Quadro das Nações Unidas para as Mudanças Climáticas, acordaram na conferência de Paris em dezembro de 2015, que tomarão medidas de mitigação da emissão de gases para que o aumento chegue ao máximo de 1,5 graus. Dois graus já significaria degelo de boa parte da calota polar ártica, com consequente aumento do nível do mar e danos a cidades costeiras (onde vive a maior fração da população do planeta)."
Todas essas mudanças interferem em outro assunto também muito importante: fome. Essas transformações na temperatura do planeta podem afetar as formas que a população se alimenta. “O ser humano se tornou refém de cerca de 10 espécies de plantas e animais que respondem por 80% da nossa dieta: arroz, batata, milho, café, chá, trigo. É uma diversidade baixíssima. Aumento de temperatura pode causar baixa de produtividade para várias dessas espécies e com isso agravar o panorama de fome, que hoje já aflige 800 milhões de pessoas, ou mais de 10% da população do planeta. Criar alternativas alimentares, especialmente a partir de variedade silvestres, é uma importante estratégia para a nossa sociedade se adaptar às mudanças climáticas em curso", disse Fabio. Ainda no âmbito alimentício, mostramos na semana Especial Água que, em média, 70% da água própria para consumo é utilizada pela agricultura. Pensando nisso, questionamos sobre a importância de uma agricultura sustentável e sobre as novas formas de produzir os alimentos. “Agricultura, energia e saneamento – no Brasil e em boa parte da América Latina – correm o risco de competir por água, em um cenário de mudanças climáticas. O Brasil é um país que, pelo regime de chuvas, pouco irriga em comparação com outros países do mundo. Nossa energia tem uma forte contribuição da matriz hidroelétrica. Mais de 80% dos municípios brasileiros não contam com boa infraestrutura para saneamento, o que também demanda água. O cumprimento do código florestal, com restauração de áreas degradadas às margens de rios no país, pode auxiliar a garantir qualidade e quantidade de água para o campo e para as cidades. Esperemos que, dessa vez, a lei possa ser cumprida.” Abaixo um vídeo sobre a atual forma de consumir água no mundo.
Pra terminar, Fabio fala um pouco do seu olhar sobre a conscientização da população hoje em dia. "Eu tenho um querido amigo que diz que, no dia em que soubermos o nome da bacia hidrográfica onde vivemos (assim como sabemos o nome da nossa rua ou do nosso bairro), teremos alcançado maior consciência em relação à importância da água para as nossas vidas. Ele tem razão. Mesmo um recurso renovável, como a água, é esgotável e contaminável. Portanto, todo cuidado é pouco. Recentemente li uma pesquisa que dá conta que o povo brasileiro é o que mais enxerga a crise do clima como um problema sério, a frente de países como a Alemanha e o Canadá. Esse é um bom sinal, mas precisamos passar da consciência para a prática. É por isso que o trabalho do “Menos 1 Lixo” é tão importante. Temos que passar mais rápido da consciência para a mudança de comportamento." É isso que acontece quando você troca o uso dos descartáveis pelo nosso copinho. Mais uma vez agradecemos a todos que aderiram ao movimento, se conscientizaram e mudaram suas ações. Um agradecimento especial ao Fabio Scarano por tantos esclarecimentos e, principalmente, por tanta preocupação com o coletivo.
Em 1º de Janeiro de 2015 nascia o Menos 1 Lixo, um desafio pessoal da Fe Cortez, de produzir menos lixo e provar que atitudes individuais somadas constroem um mundo mais sustentável.