Dizem que as paredes têm ouvidos. Mas, na verdade, é o universo que tem. Escuta tudinho e, como quem não quer nada, brinca de quebra cabeça com as coisas por aqui de um jeito que fica difícil acreditar sem rir. E isso não é papo místico, é fato real, palpado na Física Quântica: fale em voz alto, jogue energia no que quer, vibre na frequência do que faz sentido, esteja aberto para recebê-lo. Atração é isso. Quer dizer, a Lei da Atração é isso. E Raquel Rosemberg tem sentido bem essa verdade na pele, na alma, no coração, em cada poro seu. Ela é uma das co-fundadoras da Engajamundo, uma ONG criada através da iniciativa de jovens, que trabalha com a mobilizacão e formação da juventude brasileira para participação internacional. O que faz a cabeça não entender, mas coração agradecer, é que tudo no Engaja fluiu de forma extremamente orgânica, desde o começo, lá em 2012, na Rio+20. Hoje, ela olha pra trás e nem acredita muito bem a dimensão que a coisa ganhou: entre conferências e encontros com autoridades (incluindo aí participação na Assembleia Geral da ONU, nas COPs 19 e 20 e na CWS, que é Conferência do status da Mulher), a Engajamundo já conseguiu formar uma rede com mais ou menos 500 jovens participantes de 20 estados do Brasil, influenciando diretamente naquilo que faz sentido se quisermos pensar em futuro.
Entre tantos temas, o Engajamundo foca em quatro dimensões: mudanças climáticas, questões de gêneros, desenvolvimento sustentável e habitat. Tudo isso, sempre, de forma apartidária. "A gente faz um processo de mobilizar e capacitar os jovens sobre processos internacionais e sempre levamos uma delegação para defender esses posicionamentos nas conferências", Raquel explica, "Além dessas formações, a gente realiza ações pontuais para mostrar pra essa juventude que temas globais estão, sim, conectados com o nosso dia-a-dia". Daí, todos esses jovens trabalham com ações menores, como por exemplo, a confecção e distribuição de stencils e lambe-lambes com mensagens marcantes, até a formação mais complexa sobre o sistema ONU e como é possível incidir sobre ele, passando por programas como a extensão universitária, que dura o ano inteiro. "A ideia é termos várias instâncias de jovens conscientes e engajados que se veem como parte da solução para esses problemas globais que são discutidos na ONU", ela resume, "Fazer política começa com a escolha em sair de casa com uma bicicleta em vez de carro ou ter uma horta, uma cisterna, uma composteira em casa".
Tudo começou lá em 2012, quando ela ainda cursava Relações Internacionais na PUC de SP e percebeu que entre seus colegas todos eram poucos os que sabiam que a Rio+20 ia rolar. "Se nem nessa bolha as pessoas estão sabendo, vamos começar a agitar para participar desse espaço", ela lembra de ter pensado. É que, sim, havia um espaço para participação de jovens e também uma demanda deles para participar, faltava o clique pra unir isso e aquilo. Eles criaram um Comitê Universitário, em que rolaram palestras, debates e eventos em várias universidades e centros públicos e juntaram uma delegação pra ir pro Rio acompanhar as discussões. "Mas quando chegamos lá, sentimos que a gente tinha caído de pára-quedas, não conseguimos influenciar o processo como a gente queria justamente porque faltava conhecimento para termos uma participação mais efetiva", ela conta. Mas descobriram que a juventude era um dos grupos de interesse majoritários da ONU e que esse era bem representado por jovens dos EUA, Europa e Austrália, mas nenhum brasileiro fazia parte. E, bem, os problemas e realidades do Brasil são bem diferentes das desses países.
Desse primeiro momento, veio o aprendizado de que era necessário mergulhar fundo nesse mundo para entender como se posicionar e fazer a sua voz ser ouvida. Sempre, claro, dizendo em voz alta e fazendo o universo entender os caminhos que levavam a esse sonho. Foram aparecendo contatos, conexões, a rede foi se fortalecendo, os crowdfundings que faziam para juntar grana para ir para as confefências sempre superavam as metas, eles foram ficando conhecidos em cada conferência que iam, foram aprendendo, estudando, conversando, recebendo mais e mais jovens dispostos a mudar o mundo com as próprias mãos.. E quando viram, a Engajamundo estava caminhando com muitos pés rumo a um futuro mais sustentável e mais justo. "A gente entendeu que mais do que a conferência em si, é fundamental participar do processo que dura o ano inteiro antes delas, que é justamente quando são estabelecidos os posicionamentos do governo brasileiro perante o mundo", Raquel explica.
Foi daí que eles se juntaram com outras organizações da sociedade civil e criaram o projeto Entrando no Clima. Desde então, eles têm se encontrado e estudado questões relacionadas ao clima, tema este da COP-21, que vai rolar em Paris em dezembro, e vai estabelecer uma nova meta para os países fazerem sua parte no controle das emissões de gases de efeito estufa. Desses encontros, eles estabeleceram um objetivo: reduzir em 40% as emissões até 2030 e zerar esse número em 2050. Na semana passada, Raquel foi até Brasília e entregou em mãos a meta estabelecida pelos jovens para o Ministro da Fazenda, Joaquim Levy, e para a Ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira. "Influenciar o Brasil é influenciar o todo nessa grande negociação", ela diz, "A gente quer participar cada vez mais da construção do posicionamento do Brasil". Vale dizer que poucos dias depois disso, Carlos Nobre, presidente da Capes/MEC e doutor em climatologia, publicou um artigo falando sobre a meta para o Brasil. E ela era exatamente a mesma da proposta pelos jovens. Paredes têm ouvidos. Quer dizer, é o universo que tem…
Nesses mais de dois anos vivendo cada respiro do Engajamundo, Raquel tem inerente a certeza de que dá pra se manter otimista: "Eu sinto que cada vez mais os jovens estão querendo se engajar e isso não tem nada a ver com disputas partidárias: trata-se da necessidade de engajamento político com questões globais que começam no nosso quintal". Nem mesmo olhar pra forma como as coisas rolam hoje em dia (como por exemplo enxergar a força dos lobbies do agronegócio e das petroleiras) tira as esperanças dessa paulista de 25 anos: "A gente não tem a mesma força que eles, mas se ninguém começar, a gente nunca vai chegar lá", ela reflete. Daí, com sonhos que ultrapassam limites e voam alto, toda esse rede de jovens engajados vem se fortalecendo e se consolidando como referência de um futuro melhor. "Eu acredito mesmo que cada jovem é uma sementinha que vai influenciar direta e diferentemente em todos os níveis de tomada de decisão, seja dentro de uma empresa, de um governo local, de uma ONG ou até na sociedade civil", ela refelte, "Mais do que uma esperança, a gente tem o desafio de conseguir dar peso para que esse lobby do bem tenha tanto peso quanto o lobby do mal". E, sabe como é, talvez eles não tenham todo o poder do dinheiro. Mas tem de sobra muita energia jovem intensa e direta, focada no bem. E isso, ah, isso o universo não só escuta, mas sente. E sabe muito bem como retribuir…
Em 1º de Janeiro de 2015 nascia o Menos 1 Lixo, um desafio pessoal da Fe Cortez, de produzir menos lixo e provar que atitudes individuais somadas constroem um mundo mais sustentável.