É possível listar um milhão de motivos pra excluir os alimentos ultraprocessados da alimentação, certo? Refrigerante, maionese, margarina, biscoitos recheados, suco em pó, gelatinas e macarrão instantâneo, por exemplo, estão tão distantes do que um dia foi um ingrediente natural que não podem mais ser vistos como comida. E são muitas as razões que nos colocaram no ranking de países que mais consumem esse tipo de produto. Entre elas, estão a influência da publicidade, a pressão das gigantes de alimentos nas políticas públicas da área da saúde, os preços muito baixos e a dificuldade de acesso a outros alimentos mais saudáveis. Sim, precisamos lembrar que moramos num país onde nem sempre chega alface, mas nunca falta leite em pó.
Só que tem outro motivo que ajuda a entender o aumento do consumo de substâncias comestíveis: a inegável libertação das mulheres do fogão. Lembra do fardo que historicamente carregamos pra ter que dar conta de trabalho doméstico, educação de filhos, carreira e horas de cozinha? Então, a possibilidade de ferver uma água e jogar um pozinho dentro, que fica pronto em 5 minutos, tirou um pouco do peso que, nós, mulheres carregamos nas costas.
É por isso que sempre me perguntam como posso ser feminista e defender o ato de cozinhar ao mesmo tempo. Simples: defendo que não só as mulheres coloquem a barriga no fogão. Só é possível vencer a guerra contra os ultraprocessados se todos, inclusive as crianças, contribuírem no preparo dos alimentos.
E não custa lembrar: cozinhar não envolve apenas picar cebola e misturar ingredientes numa panela. É preciso verificar o que tá faltando no armário, ir à feira, lavar e armazenar os vegetais, pesquisar receitas, e higienizar toda a cozinha depois.
Então, "mas ele lava a louça", "ele cozinha aos domingos" não é o suficiente. Já passou da hora de companheiros, pais, filhos, irmãos, tios e amigos também assumirem a responsabilidade pela alimentação da família.
Em 1º de Janeiro de 2015 nascia o Menos 1 Lixo, um desafio pessoal da Fe Cortez, de produzir menos lixo e provar que atitudes individuais somadas constroem um mundo mais sustentável.