Quem não ama se deliciar com chocolate? Segundo uma pesquisa divulgada na Exame, em 2016, cada brasileiro consumia 2,5kg de chocolate por ano. 4 anos depois, possivelmente esse número já se multiplicou, né?
Você já parou pra pensar sobre a produção dos chocolates? Eles têm muuuuuuuuuitos dados pra refletirmos como, por exemplo, a adição de óleo de palma nos chocolates ao leite e de fabricação industrial, que são um problema muito grave pras florestas da Ásia. Quase todo óleo de palma hoje é produzido na Malásia, Indonésia, Borneo e Sumatra. Isso significa que as florestas tropicais estão sendo dizimadas pra esse fim. E 80% dos focos de incêndio por lá são pra plantação das palmeiras e o cultivo da palma.
E essa prática afeta profundamente a qualidade de vida da biodiversidade por lá. Os orangotangos, por exemplo, ficam completamente sem casa por causa da devastação das árvores nativas. E eles são encontrados apenas nas florestas tropicais asiáticas.
Muitos chocolates industriais, daqueles bem conhecidos, usam óleo de palma na sua composição, pra garantir a textura e a durabilidade. Especialmente aqueles que carregam avelã, sabe? O site da Nestlé, por exemplo, confirma a composição do ingrediente.
Outro desafio dos chocolates industrializados é a procedência do cacau. A ONG Mighty Earth produziu uma denúncia de que 80% das florestas da Costa do Marfim foram devastadas nos últimos 50 anos por conta do cacau. E, segundo o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, esse número pode chegar a 100% em 10 anos, se o consumo continuar a crescer.
Gana e Costa do Marfim são responsáveis pela exportação de 60% de todo o chocolate que consumimos no planeta. O segundo país produz 1,6 milhões de toneladas de cacau por ano.
O nosso amplo consumo e produção irresponsável do doce favorece a destruição de áreas que deveriam ser protegidas mas, por conta da corrupção e da ganância, não seguem essa regra. No relatório de denúncia da ONG, as maiores marcas de chocolate estão envolvidas nesse comércio: de Lindt até a Nestlé. Essa produção massiva e ilegal de cacau afeta, além da qualidade de vida dos africanos, também a dos animais, como elefantes e chimpanzés. Segundo o relatório da Mighty Earth, de 1990 a 2008, foram 1,48 milhões de hectares desmatados pela produção do cacau. E já se passaram 12 anos...
A reflexão não é sobre não consumir, mas como consumir. Existem vários pequenos produtores artesanais que cuidam desses detalhes por aqui no Brasil. Em quarentena, é uma excelente oportunidade de investirmos em um consumo consciente, conversando com quem faz e como faz o chocolate que você quer consumir - na Páscoa, fora dela e pós-pandemia.
Na Costa do Marfim, descobrimos um projeto lindo, de uma africana que construiu uma marca pra valorizar o cacau orgânico e local: a Mon Choco. A ideia é chamar atenção pra existência de meios sustentáveis do chocolate, em um país que absorve um sistema produtivo extremamente nocivo pra quem planta, quem colhe e pra natureza.
O Brasil é um super produtor de cacau. O estado do Pará, por exemplo, arrecada 1 bilhão de reais com essa agricultura. Então, não tem porque a gente comprar das grandes marcas que importam cacau de outro continente, se temos uma vasta produção por aqui.
Além disso, é lindo se investirmos em produtores de cacau orgânico. No Brasil, a produção não é alta - menos de 400 famílias têm o certificado - mas muito pela dificuldade de mercado. Por isso, é responsabilidade nossa fazer o produto ganhar destaque. Essa produção é responsável por tirar muitas famílias de agricultores da linha da pobreza, sabia disso? :)
O cultivo do cacau pelo mestre da agricultura sintrópica, Ernst Götsch é valiosíssimo e rende 3 vezes mais do que o cacau comum.
Ano passado, nós fizemos um post sobre o trabalho infantil nas produções de cacau, outro ponto super importante na nossa responsabilidade no consumo do cacau.
Quanto menor a escala do nosso consumo, menor a nossa pegada de carbono e menores as possibilidades de uma produção que destrói o planeta, a biodiversidade e a saúde de sociedades. Além disso, maiores as nossas oportunidades de ingerirmos comida de verdade.
Vamos exercitar esse novo hábito e reflexões na páscoa de 2020? Que tal multiplicar esse conhecimento pra sua família?
Em 1º de Janeiro de 2015 nascia o Menos 1 Lixo, um desafio pessoal da Fe Cortez, de produzir menos lixo e provar que atitudes individuais somadas constroem um mundo mais sustentável.