Quando a gente fala de comida orgânica lá vem o pensamento: comida cara. Mas e quando fala de favela? Em 2011, Regina Tchelly uniu os dois pontos no Projeto Favela Orgânica. Empreendedora, ela movimentou os morros do Chapéu Mangueira e Babilônia, botando em prática ações para aproveitar o máximo de cada alimento, sabedoria que cultivou a vida toda na Paraíba, onde nasceu.
Regina não tem nem lixeira na sua cozinha: cascas, talos e sementes são usados em novos pratos, novas ideias. Nada se perde, tudo se aproveita. A vontade de compartilhar seu conhecimento fez com que ela montasse o projeto. “Com R$ 140, doados por amigos da comunidade e do asfalto, mandei fazer aventais e tudo começou", lembra. Em um mês, já havia pessoas do Complexo do Alemão, Tabajara, Pavãozinho, França e Japão interessadas no que ela tinha a ensinar. E ela tinha muito.
Regina foi a primeira mulher brasileira a dar aula na Universidade das Ciências Gastronômicas de Pollenzo, Itália. Com prêmios como Aliança de Empreendedorismo Comunitário, Toda Extra e Sebrae Mulher de Negócios, o movimento expandiu das comunidades para todo o Brasil. Em 2014, o Papa Francisco convidou a paraibana para ensinar aos chefs do Vaticano a cozinhar sem desperdício. O trabalho segue crescendo. O Favela Orgânica tem hoje serviços como oficinas do Ciclo do Alimento, bufê de Gastronomia Alternativa e capacitação profissional. Para o segundo semestre está prevista a abertura de um instituto na própria comunidade, promovendo a inclusão de crianças especiais e a “melhor idade” - como diz Regina, sorrindo - nesse sonho.
“Eu me sentia mal. Tinha que subir o morro com um monte de embalagem e depois descia com um monte de lixo", lembra. "Eu troco Nescau por cacau, maionese por entrecasca de inhame, e tudo que posso. Nós sempre podemos! Comida orgânica requer uma reflexão, um entendimento sobre o nosso alimento. Educação e conhecimento. Mais acesso”, defende Regina. Em setembro estreia seu canal no YouTube, com dicas iniciais de como ter uma horta em um pequeno espaço; como se trabalhar com o que tem. Assista; Regina é daquelas que a gente não pode desgrudar o olho.
Em 1º de Janeiro de 2015 nascia o Menos 1 Lixo, um desafio pessoal da Fe Cortez, de produzir menos lixo e provar que atitudes individuais somadas constroem um mundo mais sustentável.