Ao longo desses últimos tempos pandêmicos, cozinhar a própria comida ganhou mais espaço no dia a dia de muita gente. Se os ingredientes forem orgânicos então, esse repertório ganha ainda mais sabor. A venda de certos produtos orgânicos cresceu além dos 50% no primeiro semestre de pandemia no varejo, segundo a Associação de Promoção dos Orgânicos (Organis).
Por outro lado, essa ainda é uma realidade pra poucos. Entrando em supermercados como o Carrefour, 90% dos alimentos orgânicos possuem preço elevado, como sustenta um estudo realizado por pesquisadores da Embrapa. Além do quesito preço ser limitante, o acesso a produtos não convencionais lida com barreiras espaciais pra chegar a lugares periféricos, o que dificulta ainda mais o alcance.
Indo a fundo, fomos querer saber o que agrotóxicos (também pesticida, praguicida, inseticida) tem de tão errado. A verdade é que além do recorte de classe, descobrimos que há um recorte de gênero gigantesco.
O estudo Contaminación Ambiental y Salud de las Mujeres, da espanhola Carme Valls, afirma que os agrotóxicos são substâncias lipossolúveis, que se dissolvem em meio a gordura corporal. Isso faz com que o corpo vá acumulando esses elementos ao longo da vida, aumentando as chances de desenvolvermos câncer de mama, fibromialgia, fadiga crônica, síndrome de hipersensibilidade e outras doenças. Os organoclorados - como também são chamados - têm vida longa, podendo durar 40 anos no organismo, principalmente no tecido adiposo. Em mulheres com dieta carnívora a realidade é ainda pior.
Imagine um bezerro consumindo organoclorados desde a primeira amamentação, certamente sua mãe foi alimentada com ração vinda de monoculturas tradicionais. Ao longo do seu crescimento, ele vai conservando essas substâncias no seu processo de engorda, que também serão consumidas pelos humaninhos em forma de carnes e laticínios. E como qualquer semelhança está longe de ser coincidência, nós também reproduzimos esse ciclo, começando pelo leite materno.
A verdade é que tudo isso deveria ser questão de saúde pública, pauta de discussão, incentivos, campanhas governamentais pela informação da população. Enquanto isso não chega, seguimos fazendo o que está ao nosso alcance. Podemos começar exercitando o nosso poder de escolha, preferindo marcas e produtos que tenham um ciclo de vida contínuo, mantendo o olhar atento ao meio social e ambiental ao nosso redor.
Vem com a gente?
Em 1º de Janeiro de 2015 nascia o Menos 1 Lixo, um desafio pessoal da Fe Cortez, de produzir menos lixo e provar que atitudes individuais somadas constroem um mundo mais sustentável.