Abre uma tela. É inflação, é alta do dólar, é maracutaia pra aprovar lei. Abre outra. O time que venceu, o corruptor que foi preso, o corruptor que foi solto, muitos dinheiros que foram pra sabe-se lá onde, uma peça de teatro imperdível. Outra. Desmatamento na Amazônia, crise política, eleições nos EUA, bomba em Gaza, queda da lucro de fulano, estreia de filme bom, previsão de sol no final de semana aqui e lá longe. Não deu nem a hora do almoço e você já sabe de tudo de todo o mundo. Respira, pare um pouco. Olha a sua volta, aí pertinho do que é real pra você. "A gente fica sabendo de muita coisa com a globalização e a nossa realidade imediata sensorial de todo dia se perde para algo mais distante", reflete Juliana Schneider, uma jovem de 28 anos que descobriu que, mesmo em tempos onde tanta coisa doida vem acontecendo, é possível não só ter esperança de um futuro melhor, como apreciar no presente esse mundo mais belo.
Era 2011 quando Juliana mergulhou num mundo que deixou toda a sua visão mais colorida - e otimista. Por esses mistérios da vida que fazem tudo se encaixar direitinho, ela foi para Totnes, a 300km de Londres, estudar em uma escola diferente de tudo que tinha visto por aí. "Um lugar de encontros, para reunir pessoas que querem se encontrar com elas mesmas, entre elas, com a natureza e com temas que estão latentes nesse mundo", ele descreve. Schumacher College é o nome desse lugar cujo foco é, vejam só, descobrir coletivamente novos caminhos mais verdadeiros, sustentáveis e com propósito para seguirmos essa caminhada. Uma filosofia que une mente, coração e mãos -os três pilares pra ações completas. "Lá, o aprendizado acontece de forma holística, é uma educação não baseada no controle", ela conta, "O aluno é parte ativa do processo". E, daí, todos os professores estão lá para compartilhar aquilo que sabem, mas têm total consciência de que não há uma resposta final -os caminhos estão sendo traçados e sendo construídos por todos que passam pela escola. Espontaneamente.
A escola foi fundada em 1990 e é um espaço que reúne gente que vem pensando fora da caixinha e se consolidando como verdadeiras referências no que diz respeito à sustentabilidade no sentindo mais amplo da palavra. Daí, são oferecidos cursos de curta duração e, tcharan, o Mestrado em Ciência Holísticas, o único no mundo que trabalha esse tema. "Originalmente, a ciência era muito como alquimia, focada na intuição, e com a revolução científica, ela passou a ser baseada na metáfora do mundo como uma máquina e isso tem grandes implicações", ela explica, "A ideia é abrir espaço para esses outros caminhos que não se baseiam nessa visão reducionista, como a física quântica ou a teoria da complexidade". Desacelerar para entender os movimentos -e não apenas a coisa pronta. Respira.
E, pra tudo isso, a vida em comunidade se coloca como ponto central para reestabelecer todas essas conexões e encontros que a Schumacher possibilita. "Lá, você vive plenamente a vida em comunidade: todos cuidam do jardim, fazem comida, lavam louça, limpam o banheiro, varrem o chão, trocam os lençóis, lavam roupa…", lembra Karina Miotto. A carioca, que idealizou o projeto Reconexão Amazônia (a gente já falou dele aqui, lembra?), fez um curso de curta duração na Schumacher e sentiu na pele (e no corpo e na alma) o chamado para ser fazer parte desse mundo de mudanças positivas que nasce lá. Juliana lembra que "Sustentabilidade lá é vivida plenamente e o tempo todo, mas não de uma forma ideológica". É que eles não estudam teorias, modelos ou diagramas do tema, por exemplo, mas "A gente se conecta com o que é estar vivo, com o perceber, olhar, buscar percepção, estar em contato e não estar inerte diante do que vemos ao redor", como ela mesma diz.
Tanto Karina como Juliana mudaram as águas das suas vidas depois de passar pelo Schummacher. É aquela velha história de que, depois de sentir que o mundo pode ser mais leve e verdadeiro, não tem como voltar a viver daquela velha forma. E as duas vem trabalhando para ampliar esse universo: Karina foi estimulada a fazer o mestrado por ninguém menos que um dos fundadores de lá, Satish Kumar. Em questão de poucos dias, ela foi aprovada e agora está colocando todas as suas energias em um crowdfunding (clica aqui pra ajudar!) para conseguir juntar a grana pra estudar lá e aplicar todo esse conhecimento verdadeiro e real na causa em prol da Amazônia, que vem sendo sua missão. Juliana vem se aventurando para fazer fluir o Schummacher College Brasil, um modelo inspirado em tudo que rola lá em Totnes e, justamente por isso, não replica nada, mas deixa os caminhos irem se traçando.
"A gente não antecipa os movimentos, mas vamos nos movendo e deixando o movimento dar sentido ao que estamos fazendo", Juliana resume. Sabe… deixar fluir!? "A vida é muito misteriosa pra entender ao certo o porquê da Schumacher College Brasil estar dando certo agora, mas o que eu sei é que a gente vem focando mais no passo a passo do que na grande ideia", ela diz, "É que não é o planejado que gera as coisas, é o natural, aquilo que a gente participa ativamente mas não controla os rumos". Daí, nesse sentido, parcerias nascem e fortalecem o movimento. Só que parceria no seu sentido mais genuíno, também. "Não tem a ver com institucionalizar", ela reflete, "A gente se reconhece parceiro, não acorda parceiro de um dia pro outro". E pra fazer parte disso, é só se aproximar. Todo mês, eles vêm realizando encontros entre gente interessada nessa nova forma de enxergar e viver o mundo e as portas estão abertas pra você, que quer conhecer e viver mais todo esse movimento real. "As possibilidades são infinitas", reforça Juliana. E é aquilo: se cercar de gente que vem conseguindo viver essa plenitude de sustentabilidade faz com que a realidade seja inspiradora. Ser a mudança que você quer ver no mundo, no final das contas, é isso.
Em 1º de Janeiro de 2015 nascia o Menos 1 Lixo, um desafio pessoal da Fe Cortez, de produzir menos lixo e provar que atitudes individuais somadas constroem um mundo mais sustentável.