por Camilla Buenting
Eu contei aqui sobre a situação de Cape Town, que pode ser a primeira metrópole do mundo a ficar sem água. Em fevereiro, o governo decretou que cada pessoa pode usar 50 litros de água por dia pras suas necessidades e hoje quero te contar como é readaptar a vida pra essas limitações. Com a seca se prolongando e o Dia Zero se aproximando, todos estão se esforçando em repensar o consumo de água: residências, comércio e governo. O governo de Cape Town está lidando de uma forma bem diferente com a crise hídrica do que o governo de São Paulo, com sua crise de 2015. Aqui, os esforços estão concentrados em diminuir o consumo de água residencial, que corresponde a mais da metade do uso municipal da água. No episódio da seca de São Paulo, o governo também focou em ações para diminuir o uso residencial de água, porém, mais da metade do consumo da região metropolitana era pelos setores industriais e de serviço. Aqui, justamente por essa diferente distribuição do consumo, a ação do cidadão faz tanta diferença. Abaixo, uma rádio local elaborou o seguinte gráfico para guiar o uso de 50L de água por dia:
A recomendação de 50 litros por pessoa, por dia, é pensada no consumo direto. Ou seja, inclui a água que se usa tanto em casa quanto no trabalho ou escola assim como em restaurantes e outros estabelecimentos comerciais. Por isso, é importante pensar em quanta água os nossos hábitos requerem. Aqui uma pequena lista de hábitos básicos para usar água de forma consciente:
Porém, essas medidas não são suficientes para ficar dentro da quota de 50 litros por pessoa. Uma única descarga são 10 litros numa descarga normal. Três minutos de ducha são 66 litros numa ducha convencional. Como eu estou fazendo para me manter dentro do teto de 50 litros por pessoa, por dia: Aqui vão algumas mudanças que eu fiz para me adaptar às restrições de consumo de água. Vale lembrar que eu alugo um quarto em uma casa, então só pude fazer alterações nos meus hábitos, e não mudanças estruturais na casa. Eu também tenho um jardim, que precisa de muita água para sobreviver o verão seco de Cape Town, ou seja, eu tenho muita necessidade de água e reaproveito minha água de reuso pras minhas plantas. Eu também não tenho carro, ou seja, não preciso lavá-lo. BANHEIRO
COZINHA
LIMPEZA
Outras mudanças que podem ser feitas:
Mas e agora? Acima de tudo, essa experiência está me ensinando a olhar para a minha conta de água além do valor final que eu tenho que pagar, e sim para a quantidade de água que eu uso. Quando falamos de sustentabilidade, é muito importante measureto
manage, mensurar para manejar. Boas práticas para reduzir o consumo de água não estão restritos, porém, à esfera residencial e pessoal. Como expliquei antes, muitos estabelecimentos comerciais também estão se esforçando para diminuir seu consumo de água, como restaurantes usando a água do banho-maria para limpeza e trocar receitas por outras que precisam de menos água (como grelhar ao invés de ferver legumes), assim como outras práticas que podem ser adotadas em casa. Porém, muitos restaurantes e escritórios, assim como residências, estão embarcando em trocas que não são exatamente inteligentes em termos de uso de água consciente ou de sustentabilidade. Afinal, temos que levar em conta o impacto ambiental direto assim como o virtual. O primeiro exemplo, é o incentivo da venda de água engarrafada, ao invés de água da torneira (lembra que é potável?). Isso não faz muito sentido. Primeiramente, a maior parte da água engarrafada é engarrafada na região do Western Cape, ou seja, também está usando a água do sistema que está em crise. E mais, usa-se em torno de 13 litros de água para se fazer uma garrafa PET que só armazena 1 litro de água. Faz sentido? Não, né? Esse “cálculo” não é restrito apenas à região do Cabo. Uma proposta é apenas vender a água que é engarrafada em sistemas hídricos de outras regiões. Porém, temos que pensar na troca de impacto ambiental - continua o consumo de água apenas para fazer a garrafa PET e temos que adicionar o carbono pelo transporte dessa água. Outro exemplo é a troca do uso de copos, pratos e talheres por descartáveis Isso apenas transfere um problema de água para um problema de lixão, poluição e dependência do petróleo. Isso sem contar na água usada na produção desses descartáveis que será jogada no lixo em apenas um uso.
Uma economia porca, pois é possível lavar louça com muito menos água. Ou então, usar descartáveis feitos de papel ou de outra fibra vegetal, compostáveis e biodegradáveis. Porém, a produção desses itens também requer água e não podemos esquecer do custo ambiental do transporte envolvido. Outras sugestões de trocas incluem usar mais shampoo seco ou lenços umedecidos para higienização pessoal. Então, nesse momento, mesmo os ativistas de sustentabilidade estão em debate. Tem gente em cima do muro e tem gente dos dois lados do muro. Será que vale a pena fazer essas trocas? E se for só enquanto tivermos em crise? Mas e se a escassez de água for o “novo normal”? Esse momento que a Cidade do Cabo está vivendo é muito único, pois está nos colocando na vanguarda para criar expertise com urgência em hábitos e soluções que podem nos ajudar a nos tornar conscientes consumidores de água.
Água é vida.
Em 1º de Janeiro de 2015 nascia o Menos 1 Lixo, um desafio pessoal da Fe Cortez, de produzir menos lixo e provar que atitudes individuais somadas constroem um mundo mais sustentável.